Em ano de consagração, faz sempre bem parar para o balanço e olhar para o que se fez. De olhos postos no futuro. Foi isso que pedimos aos Da Weasel, uma das mais bem sucedidas bandas portuguesas, que garantem que ainda sentem a batida com o seu hip-hop/rock/funk/soul/e-o-que-mais-quiserem.
Este foi um ano de muitas emoções para os Da weasel. Ancorados em definitivo a um estatuto de reconhecimento há muito merecido foram várias as experiências únicas e inesquecíveis em que se viram envolvidos nos últimos meses, nomeadamente a passagem como convidados pelo Isle of MTV, entre concertos integrados noutros eventos da época estival. Irrequietos, no entanton continuam ainda a desenvolver projectos que não os deixam pensar em férias, o mais recente dos quais é o CD-Rom que vos oferecemos com esta edição do BLITZ. PAcman, Jay-Jay e Quaresma falaram das expectativas, do aqui e agora, e também do que já foi.
O percurso dos Da Weasel ao longo dos anos tem sido preenchido por alguns grandes moementos. Pode dizer-se que a actuação no festival da MTV contituirá o ponto mais alto da vossa carreira?
Jay-Jay: Não diria o mais alto, diria o mais saboroso.Porque termos o privilégio de sermos uma banda portuguesa a cantar em português e conseguirmos entrar em 130 milhões de lares, deixa-nos imensamente orgulhosos, principalmente por ser a MTV. Acho que é um ponto altíssimo na nossa carreira.
Como é que surgiu esse convite?
Pacman: Penso que houve uma procura por parte da MTV com o fim de ouvirem bandas portuguesas. Acho que ouviram algumas e acabaram por ser eles próprios a escolher. Se isso for verdade porque não sei mesmo se é,é mais uma razão para estarmos contentes. É muito bom mesmo.
Todo o cuidado e planeamento que envolveu o vosso úlitmo disco, “Podes Fugir Mas Não Te Podes Esconder”, poderá ter sido decisivo na escolha dos Da Weasel para representar Portugal num evento como este?
Jay-Jay: Acho que pode ter ajudado bastante. Esles analisaram os vídeos e os álbuns, portanto acho que em termos de imagem ajudou, e se calhar foi mesmo um factor decisivo. Como é sabido, tudo o que passa na MTV tem imensa produção, eles escolhem muito a dedo os telediscos e as bandas. Não diai que foi tanto pela criação dos alter-egos e por esse tipo de imagem, mas mais ainda pelo conjunto. penso que até do outro álbum eles viram vídeos, e isso deve ter ajudado bastante.
Pacman: Por outro lado, também há o facto de sermos das bandas que estão a tocar mais em Portugal este ano. Isso poderá ter sido um ponto a favor, porque eles devem ter olhado para o que se está a passar aqui. Os Da Weasel estão a ter um bom ano, como nunca tiveram, isso também é capaz de ter pesado um bocado.
A língua portuguesa não constituiu, portanto, uma barreira…
Pacman: Graças a Deus não.
Jay-Jay: Foi mesmo com muita surpresa que soubemos. Pessoalmente estranhei imenso, porque, como é evidente, estar a ouvir uma banda em português na República Checa, por exemplo, deve ser esquisito. Era mais fácil – ou mais certo – terem escolhido uma banda que cantasse em inglês. Acho que isso redobra as nossas responsabilidades.
O último ano foi de consagração para os Da Weasel. Poderá esta actuação abrir a porta para voos ainda mais altos?
Pacman: Nunca se sabe. Pode abrir portas, pode haver um gajo que esteja a ver isto sei lá onde, algures na Europa, que goste e decida apostar. Há “n” possibilidades.
Jay-Jay: Tenho inclusive u amigo que me enviou uma mensagens há tempos. Eles estava em Londres, numa megastore, e viu lá flyers com o nosso nome. Isto deixa-nos especialmente orgulhosos, e aí dá para perceber a dimensão da coisa. Provavelmente estará nessa cadeia, que é uma multinacional, e provavelmente estará também em Paris, ou noutro sítio qualquer, e o nosso nome está lá.
Os Da Weasel tÊm um novo elemento na banda, o DJ Glue (antes conhecido por DJ Mãozinhas). É já um elemento definitvo do grupo?
Pacman: Sim. Ele entrou para a banda e trouxe mesmo sangue novo. Adaptou-se muito bem no espaço de um, dois concertos. E acima de tudo, é uito bom no que faz.
Jay-Jay: Acho que aconteceram várias coisas boas este ano, entre elas o nosso disco de ouro, a digressão e, de facto, o DJ Glue. Acho que ele foi das melhores coisas que nos aconteceram este ano.
O conceito do “tease” para “Podes Fugir Mas Não Te Podes Esconder” revelou uma vontade da doninha estar presente um pouco por todo o lado. Nos últimos anos, os Da Weasel têm tido presença garantida nos mais variados eventos e palcos nacionais. Não têm receio que a vossa imagem comece a desgastar-se?
Jay-Jay: Sim, a nível de concertos talvez. Depois de um anos com tantas datas, é evidente que haverá um período de ressaca, que será com certeza para o ano, no qual vamos tocar menos. Mas não somos aquele tipo de banda que apareça muito nos media, nem na televisão nem em lado nenhum. Portanto, provavelmente por esse lado não vamos desgastar a imagem. Mas a nível de concertos é claro que isso irá acoentecer, provavelmente para o ano vamos tocar muito menos.
Gerou-se uma certa onda de unanimidade em torno do reconhecimento dos Da Weasel, um pouco à semelhança do que acontece com os Xutos & Pontapés. Será positivo receber sempre boas críticas?
Pacman: Por um lado é porreiro, é claro que ficamos contentes quando as pessoas gostam do nosso trabalho. Por outro, sobe a fasquia para um nível um pouco mais alto, dá-nos uma certa responsabilidade. Tivemos um bom ano, o disco vendeu bem, as pessoas gostaram e fizeram boas críticas, mas se calhar para o ano já não vai ser assim. Vamos seguir o nosso rumo, mas dá-nos mais responsabilidades.Mas tentamos não ver as coisas por aí.
Jay-Jay: Acho que é também um pouco a recompensa de todos estes anos de estrada e de concertos. Porque isto não aconteceu do dia para a noite sempre dissemos que preferíamos ter uma carreira em que as coisas fossem acontecendo grão a grão. Mesmo que as coisas evoluissem lentamente, um dia javeríamos de lá chegar. Nunca nos preocupámos muito com esse patamar, com essa posição dos Da Weasel no meio da música portuguesa. Mas como é evidente, é óptimo ter esse tipo de reacção por parte dos media e do público. Como o Pacman disse, sobe imenso a fasquia, mas é também a nossa recompensa.
De facto, os Da Weasel nunca tiveram um sucesso repentino. Pelo contrário, foram crescendo gradualmente, e gozam agora o seu melhor momento. Olhando para trás, foi melhor assim?
Jay-Jay: Sim, sim. Ainda bem, porque o sonho dos Da wEasel foi sempre construir uma carreira. Acho que estamos a conseguir fazê-lo, e espero que dure muitos anos.
Pacman: E houve tempo para aprendermos imenso com as coisas. Se tivéssemos tido o sucesso que estamos a ter agora com o primeiro disco ou com o segundo, não estávamos a dar os concertos que damos, em termos de sentimento e da maneira como fazemos as coisas. Tivemos tempo de rodas, acho que aprendemos as coisas no momento certo. Ainda estamos a aprender.
Diriam que os Da Weasel criaram, de alguma forma, um som inovador na cena musical portuguesa?
Jay-Jay: Não arriscava a dizer tanto, mas na altura em que aparecemos existiam poucos projectos deste tipo. Penso que nos propusemos a fazer sempre o nosso som, a misturar o que temos à mão e a procurar ao máximo uma identidade. Acho que por aí os Da Weasel se destacaram.
Pacman: E em termos de forma de estar e de fazer as coisas, tivemos bem presentes bandas como os Pop Dell`Arte, os Mão Morta e os Xutos & Pontapés. Havia aquela vontade de fazer alguma coisa que fosse diferente, de tentar baralhar a cena da música. Sempre fui fã dessas bandas, e aquilo que me agradava nelas era fazerem alguma coisa de muito próprio. Tínhamos muita vontade de fazer algo que fosse mesmo nosso.
RESUMINDO MAS NÃO CONCLUINDO
Que balanço fazem destes oito anos de carreira?
Jay-Jay: Acho que estamos a conseguir alcançar os nossos objectivos, que passam por construir uma carreira, não sentir pressão para fazer as coisas, e ter sempre liberdade cirativa. Acho que também que ajudámos a cirar um mercado. Estes anos têm sido tudo o que a gente quis, ao fim ao cabo. PEnso que a gestão da carreira também tem sido bem feita. Tem sido tudo mesmo muito positivo.
Quais os momentos mais significativos da vossa carreira, e quais os que vos apetece mais esquecer?
Qauresma: Acho que o concerto no Pavilhão Atlântico com os Red Hot Chilli Peppers foi um deles, tal como o concerto no Festival Paredes de Coura do ano passado..
Jay-Jay: Os Red Hot foi realmente muito especial. A casa estava lotada, e normalmente todos sabemos que quem faz a primeira parte é praticamente ignorado, ou pelo menos recebe menos atenção. E nós tínhamos o Pavilhão do nosso aldo, a ajudar-nos a proporcionar um bom concerto. Todas aquelas pessoas que estavam lá para ver Red Hot Chilli Peppers provavelmente também terão gostado bastante dos Da Weasel. Acho que isso foi muito importante , para além do facto de termos tocado com uma das bandas que mais adoramos.
Quaresma: Outro bom momento foram os concertos no Coliseu de Lisboa e no Sá Bandeira no Porto.
Jay-Jay: Lembro-me também dos espectáculos no Ritz Club, com o Sérgio Godinho e uma série de convidados. Também foi muito especial.
Quaresma: E voltando uns anos atrás, os concertos no Jognny Gutiar, em que fizemos as versões hardcore das nosas músicas. Foi na altura em que o Johnny Guitar estava a fechar. Nem fomos com o nome Da Weasel , mas como As Doninhas.
Jay-Jay: Aquelas sala por acaso foi importante para nós. Foi uma surpresa para toda a gente. Tocámos todas as nossas músicas em versão hardcore, e as pessoas ficaram muito espantadas.
Quaresma: Momentos especiais temos muitos, a entrega do disco de ouro, nunca pensei que alguma vez chegássemos lá…
Jay-Jay: Não… a entrega do disco de prata! Eu nunca pensei que pudesse chegar ao disco de prata!
Pacman: E houve coisas porreiras como ter o pessoal dos Sepultura a ver o nosso concerto em cima do palco e a curtir, o Chad Smith, dos Red Hot Chilli Peppers, também…
Quaresma: Momentos maus… sem dúvida o Virgul ter partido a perna há dois anos no Festival Sudoeste.
Jay-Jay: Isso foi um momento inesquecível, acho que foi o pior, foi das coisas mais horríveis que vi.
Quaresma: O Virgul pediu-nos mesmo que subíssemos ao palco e lhe dedicássemos o concerto. E foi o que fizemos. Tocámos só meia hora, mas tivemos uma boa reacção do público que nos ajudou a tentar a dar o nosso melhor. E no ano seguinte já lá estávamos outra vez.
Jay-Jay: E sem saltos mortais.
Conseguem lembrar-se do momento exacto em que nasceram os Da Weasel?
Jay-Jay: Se calhar já tinham nascido mas ainda não tínhamos consciência. Penso que foi quando chegámos a um estúdio em Almada com 15 contos para gravar uma maqueta com uma caixa de ritmos, nada mais. E é engraçado porque era oestúdio do nosso actual técnico de som na estrada. Se calhar foi aí porque ainda era um projecto, e não uma banda. Ainda não tínhamos o nome Da Weasel, éramos os Court of Appeal. Uns dias depoias, passou a ser Da Weasel, por isso acho que foi esse momento, em que levámos quatro temas para estúdio e os registámos. No mês seguinte estava a passar na XFM.
Depois de um EP, quatro álbuns, o lançamento de um site poderoso, a criação de alter-egos, o disco de ouro e todas as actuações que efectuaram, o que falta fazer?
Quaresma: Faltam muitos concertos…
Jay-Jay: Estamos a passar por uma boa fase, mas também não queremos pensar que não podemos fazer melhor, Temos de conseguir fazer melhor e vamos fazer melhor. Acho que falta tanta coisa… Acabámos de revalidar o contrato com a nossa editora, portanto é como se fôssemos gravar de novo o primeiro álbum.
Já estão a pensar num novo álbum?
Jay-Jay: Já, já. Pelo menos em escrever e compor. Acho que devíamos tirar mais tempo para a composição. Devemos começar a fazê-lo imediatamente a seguir à digressãi. Não estou a falar em gravar, mas tirar tempo para criar. Acho que é o próximo desafio.
A doninha estava “pronta para estoirar em 95/com muita pica, muito afinco”. Continua a ser assim em 2002?
Pacman: Sim, acho que ainda está a estourar.É uum espirito que ainda se mantém e que cada vez está mais forte, Estamos com muito “feeling” em palco e com muita vontade de fazer coisas. Vivemos isto de uma maneira muito sentida, e acho que qualquer elemento da banda tem a percepção de que estamos a experimentar alguma coisa de muito especial e muito gratificante. Portanto, estamos aí mesmo para estoirar, claro.
In Blitz