O que têm em comum as Cantigas de Amigo, Amor, Escárnio e Maldizer imortalizadas por Gil Vicente com o flow urbano de Pacman, Virgul e
companhía? Tudo ou nada? Aparentemente, não há qualquer ligação possível entre um imaginário popular de há muitos séculos atrás com a comtenporaneídade da linguagem inteligente da rua, expressa de forma metafórica e nunca gratuita. Mas a história tem-se encarregado de dizer que, ao contrário do que se possa pensar, há temas universais que permanecem ligados à actualidade. Amor. Escárnio e Maldizer é por isso um tema que “ajudou a criar unta ideia mais balizada mas que, no fundo, abarca muito do que nós fazemos”, começa por dizer Pacman. “Li num jornal que arte é necessidade. O conceito surgiu sem grandes explicações. Lembrei-me, nem sei porquê, das canções de amigo, amor, escárnio e maldizer porque me parece que nós fazemos um bocado o mesmo que os trovadores e jornais no passado”, completa ainda. E assim, o novo álbum dos Da Weasel ficou com os seus alicerces completamente definidos.
Estamos em plena fase de promoção de um dos mais, senão o mais esperado, álbum do ano de ADN português. Mas estes são os mesmos Da Weasel que começaram por cantar ern inglês e sempre fizeram da “lírica terapia” uma forma de comentar a realidade. Nada mudou a não ser o seu impacto mediático. Dos palcos apertados às mega-produções apresentadas no Festival Sudoeste, Rock In Rio ou em França, passaram alguns anos e muitos quilometros na estrada. Foi nos concertos que a banda cimentou uma posição que a credibilidade dos discos prolongou, mesmo que as vendas nem sempre tivessem sido massivas. Mas, hoje, a realidade é outra. Re-Definições foi fenómeno português de 2004, o que apenas se confirmou numa extensa digressão recentemente terminada. Mas não se pense que as pressões mudaram a sua maneira de encarar uma arte que sempre armaram: a música. “Procurámos ir até ao limite das nossas capacidades e a partir daí o que viesse era sempre bom. Existem sempre pressões mas o mais importante era ficarmos contentes com o resultado final”, começa por dizer João Nobre, baixista dos DaWeasel e principal compositor instrumental. “Até ao Podes Fugir mas Não te Podes Esconder éramos anárquicos porque criávamos canções que depois não conseguiamos transpor para o palco. A partir daí, pensámos que o que saísse da garagem tinha que funcionar ao vivo. Deixámos os samples e passámos a depender apenas de nós próprios”, explica. Toda a composição foi pensada nesse sentido. São canções muito simples. A metodologia foi exactamente a mesma”, refere.
Em equipa que ganha não mexe e os Da Weasel pouco alteraram face a um passado que, assinala-se, é perfeitamente identificável e revela uma personalidade única na musica portuguesa. Não há aqui quaisquer necessidades de choque mas a preguiça também não faz o seu fato. Amor, Escárnio e Maldizer não compromete, em nenhum momento, os seus valores, mas introduz algumas novidades que comprovam um crescimento que, nesta altura, dificilmente poderia cortar com o passado mas que lhe acrescenta algo. Pacman toma a palavra e explica que “há o mesmo e mais. Temos cordas e metais. Foram 60 e tal pessoas em estúdio e foi também o piano. Trouxemos pessoas não só para as músicas como também para as letras e ai torna-se um passo mais à frente”, recordando a colaboração do escritor José Luis Peixoto numa letra. “Neste disco, temos uma pessoa de formação clássical/jazz como é o Bernardo Sassetti, que representa o lado mais erudito, até acabar no kuduro progressivo dos Buraka Som Sistema. São sons complectamentes diferentes e cabe lá tudo. Sem mudarmos muito, fomos mais à frente”, conclui ainda, sem esconder satisfação por tudas as pessoas terem aceite o convite para participar no disco. Mais surpreendente é a presença de Simão Sabrosa com um telefonema para Pacman. “É um telefonema real do Simão Sabrosa, enbora tenha sido pedido. Travámos conhecimento com ele porque gosta da nossa música. É um ídolo”, explica uma das vozes da banda. “Esse poema já tem algum tempo e é uma referência português. Apesar de ser falado na primeira pessoa, é um bocado auto-crítico, como o Todagente. Funciona como o telemóvel; eu criticava mas também queria ter. Achámos que era um bom remate para esse tema porque ‘desanuvia’ o ambiente”, confessa, sem perder a humildade para brincar consigo próprio.
Enquanto fenómeno dc mercado, os Da WeaseI são um verdadeiro case-study. Apelam a um público jovem que consome a música com rapidez mas não é por essa razão que deixam de vender 90 mil exemplares de um álbum (o que aconteceu Re-Definições). Amor, Escárnio e Maldizer gera expectativa mas nem por isso os Da Weasel se vão distanciar do seu target primeiro: o respeito. “Nós sempre fomos isto. Sempre houve diferentes ambientes. O nosso primeiro EP tinha uma canção que era o And Life Goes On que soava pop e tinha temas de rádio”, começa por explicar João Nobre. “Foi o próprio contexto que mudou as coisas. O mercado não estava preparado. As rádios recusavam-se a.passar. Na estrade sempre fomos muito apoiados. Os nossos concertos sempre puxaram muita gente. Depois apareceram canais como a MTV que mudaram as coisas”, conclui.
Mas se, antes, bandas como os Da Weasel sofriam do mal da falta de exposição mediática, hoje não será bem assim e basta olhar para as campanhas publicitárias que envolvem a banda. Até chegarem a um estatuto que lhes permitiu entrar pelos ecrãs televisivos sem serem imediatamente apelidados de “vendidos”, muita coisa mudou ou talvez não. Certo é que se tornaram num nome de primeiríssima divisão quando há não muitos uns anos tocavam em espaços mitícos como o Johnny Guitar, para 200 pessoas. “Por alguma razão, nunca houve un projecto com estas caracteristicas. Tem a ver com enquadramentos históricos e sociais. Às vezes, basta acontecerem um ou dois anos antes e o mercado responde de outra maneira”, começa por dizer. “Nós, com o Podes Fugir mas Não te Podes Esconder conseguimos vender mais de 40 mil exemplares, mesmo sem passar na rádio. Tivemos um single muito específico com um video muito específico “, revela. No Re-Definições foi a mesma coisa”, comenta o baixista e principal compositor. Hoje, porém, o grande “flagelo” tem a ver com os downloads ilegais que os tornam certamente numa das mais ouvidas bandas em leitores de MP3, iPods e restantes leitores digitais. “Por acaso, é uma das questões que nos é mais colocada. Para cada exemplar vendido de um CD nosso, há dez cópias. Noutro contexto, teriamos vendido três ou quatro vezes mais. O nosso caso é atípico e dá que pensar porque a maior parte das pessoas que consomem Da Weasel não compra”, regista ainda o músico. Já o seu irmão Carlos Nobre (Pacman) não tem problemas em considerar que “cada vez mais, as vendas são menos demonstrativas. Antes o problema eram os media, agora os downloads. Na estrada conseguimos o mais importante, ganhámos respeito.” Por isso, “se vendermos, tudo bem, mas se não vendermos, paciência”. O grande problema “é que depois podemos não voltar a gravar”. Todavia, “já ganhámos o nosso espaço. Temos noção que as coisas estão a levar uma volta muito grande a nível de editoras porque os downloads estão a revolucionar tudo”.
Seguros de si próprios, com respeito pela sua obra e identidade, estes são os Da Weasel capazes de equilibrar diferentes públicos mesmo não pensando neles directamente. Do confronto entre seis personalidades distintas com gostos variados, sai um híbrido de assinatura imediatamente identificável. Não há como fugir e as novas canções deverão ser ouvidas até à exaustão nos próximos dois ou três anos. A “doninha” volta a contra-atacar sem deixar resposta aos adversários, João Nobre deixa a mensagem final: “O que nos deixa contentes e confortáveis é que isto não é um fenómeno de media. Procuramos ser respeitados pelo que fazemos. Sentimo-nos conforáveis com o que fazemos, com bases muitíssimo sólidas. Nos concertos temos essa percepção. Essa atenção conforta-nos bastante.”
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