Re-Definições é o melhor álbum dos Da Weasel desde 3ºCapítulo. No capítulo discos é o sexto de um percurso que soma agora precisamente uma década. E,sim, confirma-se: já se pode respirar de alívio, que a turma de Pacman ultrapassou definitivamente a adolescência (criativa). Felizmente, a doninha já não está fedorenta. O odor pestilento a nu metal impregnado em “Tás na Boa” (do anterior Podes Fugir Mas Não Te Podes Esconder) evaporou-se e a sonoridade de Re-Definições recupera a alma com que lhe davam nos tempos áureos. E é por isso que faz sentido falar em maturidade. Re-Definições é, de facto, um disco mais sereno, mais refinado, o disco de quem perdeu a pressa de fazer e trocou-a pelo cuidado em fazer bem.
Este álbum é também uma espécie de compêndio de estilos de toda a carreira dda banda. O enriquecimento é notório sobretudo ao nível dos instrumentais, bem como dos interlúdios (muito beastieboysianos) que oferecem uma outra respiração às canções e ajudam a quebrar continuidades e diversificar ambientes. Não se espere, pois, hip hop de linha (pura e) dura, pois os habituais aromas rock, funk, ragga e até punk fazem questão de responder à chamada. Mas não só. Curiosamente, alguns dos melhores momentos do álbu estão em canções salteadas em lume brando, como a excelente parceria com Manuel Cruz em “Casa (Vem Fazer de Conta)” (a voz do ex-Ornato Violeta pinta-se de um tom misto de melancolia e esperança, num tema sobre a separação e a saudade no mundo-cão dos afectos), a tranquilidade de “Bichos” (com as teclas de João Gomes e a paixão pelas letras de Sérgio Godinho sublinhadas a vermelho), ou a inesperada homenagem à recém-nascida “Joaninha” – e “a todas as sementes”-,por um pai emocionado de seu nome João Nobre.
Isto não impede, porém, que as garras se afiem em temas como “GTA” (ou não fosse ele um manifesto anti-televisão-massificação-alienação=, nos riffs eriçados de “Loja (Canção do Carocho)”, o último herdeiro do reinado “Tás na Boa” (embora em ritmo mais lento e agressividade contida), ou mesmo nos 30 segundos de delírio punk/hardcore de “Bomboca (Morde a Bala)”. No rasto de Missy Elliott, “Baile(Aquele Beat)” é um tiro certeiro e acutilante (para condizer com a arrogância e provocação das palavras proferidas) e o hip hop/ragga de “Força” é mais uma demonstração de crescimento interior que de músculos moldados no ginásio.
Para a celebração do relax, os Da Weasel convocam o funk irresistível do interlúdio-quase-canção “Golpes 1.0”, o espírito cooool (com os cinco Os) de “Carrossel” (dicção e voz de Pac no seu melhor vs tiques de Virgul no limite da urticária) e a ode às boas vibrações chamada “Despertar” (e não é que o ragga pode ser estimulante?),com muito mais potencial de single que o escolhido “Re-Tratamento” (cheio de reminiscências de “Duia”, mas mais adocicado. “Piroso e lamechas como o amor deve ser”, dizem eles… Deve mesmo? Hmm). Outra pergunta: porquê a voz de Anabela Mota Ribeiro? Só pode ser fetiche, para a estraºalhar no eco jazzy de “Re-Definições”. Re-definições que mostram ser, afinal, reflexões sobre o passado, repensado, redigerido, recriado. Mas não repetido. E a evidência de que olhar para trás pode ser um meio de seguir em frente.
In Blitz